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Manual

Como avaliar o risco de crédito de um cliente

Índice

Introdução
O que é o risco de crédito?
Passo 1: Definição do tipo de crédito
Passo 2: Como elaborar uma ficha de crédito
Passo 3: Métodos para avaliar o risco de crédito
Passo 4: Como elaborar uma proposta de crédito

Introdução

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O risco de crédito é algo que está presente no quotidiano de qualquer empresa, seja uma empresa da área financeira, seja uma empresa de serviços, comercial ou industrial. No entanto, tendo em conta o negócio ou a área de actividade em que se inserem, as empresas procedem a análises mais ou menos cuidadas do risco de crédito dos seus clientes. Desde o estabelecimento comercial de venda ao público que habitualmente não procede a qualquer análise, até às instituições financeiras que procedem a análises bastante exaustivas, existe uma infinidade de casos.

O que é o risco de crédito?

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A concessão de crédito traduz-se na disponibilização de um valor presente mediante uma promessa de pagamento desse mesmo valor no futuro, que pressupõe a confiança na solvabilidade do devedor, isto é, de que o mesmo irá honrar os seus compromissos nas datas acordadas previamente. Por outras palavras, o risco de crédito é o risco de perda em que se incorre quando há incapacidade de uma contrapartida numa operação de concessão de crédito. Este risco está intimamente relacionado com factores internos e externos à empresa que podem prejudicar o pagamento do montante de crédito concedido, como iremos ver adiante.

Para determinar o risco de crédito de um cliente com maior ou menor exactidão, pode proceder-se a avaliações do risco. Estas avaliações podem ser mais ou menos detalhadas e cuidadas de acordo com a actividade em questão e o peso do crédito concedido no total da facturação da empresa.

Passo 1: Definição do tipo de crédito

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O risco de crédito dos clientes varia, consoante o tipo de cliente, o tipo de produtos e serviços oferecidos, o montante em causa e o tipo de entidade que concede o crédito. Em termos gerais, há três tipos de crédito: o que é concedido por empresas comerciais, nas vendas ao público e a empresas, e o que é concedido por instituições financeiras a particulares e a empresas.

Venda ao público

Em pequenas e médias empresas, o risco de crédito é avaliado com base na confiança que se gera entre o cliente e a empresa e o historial de crédito do cliente. A análise da capacidade de pagamento da dívida é muito superficial, consequentemente, o risco de crédito é agravado.

Nas empresas de maior dimensão, são criadas linhas de crédito especiais, normalmente em parceria com instituições financeiras ou com entidades especializadas na concessão de crédito. Neste caso, é a entidade responsável pelo crédito que avalia o risco do cliente, pedindo-lhe uma série de informações (nomeadamente a última declaração de IRS e um documento comprovativo de uma morada fixa, entre outros dados pessoais e profissionais) para elaborar uma ficha de crédito (cuja estrutura é descrita abaixo), que servirá de base para a análise.

Em qualquer um dos casos anteriores, os prazos médios de pagamento são, normalmente, reduzidos.

Venda a empresas

Neste caso, a avaliação do risco de crédito tem, à partida, um maior número de indicadores - demonstrações financeiras, historial de crédito da empresa, informações recolhidas pelos próprios vendedores junto do cliente, notícias publicadas pela imprensa de negócios, etc. -, mas os montantes envolvidos também são superiores. Os prazos médios de pagamento são mais alargados do que os praticados na venda a crédito a particulares; estes prazos são reduzidos nos casos em que o risco de crédito é maior e, normalmente, para encomendas de menor montante.

Crédito concedido por instituições financeiras

As instituições financeiras fazem uma análise exaustiva para avaliarem o risco de crédito dos clientes, quer sejam empresas, quer sejam particulares, e têm produtos de crédito diferenciados para cada um destes segmentos de clientes. Para os particulares têm, por exemplo, linhas de crédito à habitação, de crédito pessoal, etc.; e para empresas têm linhas de crédito para aquisição de equipamento, produtos de financiamento à exploração e de apoio ao investimento, entre muitos outros.

No caso da concessão de crédito a particulares, o risco de crédito é avaliado com base numa ficha de crédito. Quando se trata de clientes com um risco de crédito mais elevado, devido, por exemplo, ao baixo nível de rendimentos, esse risco é reduzido pela existência de um (ou mais) fiador(es) ou de outras garantias de pagamento, por exemplo, bens que estejam no nome do titular.

Quando o cliente é uma empresa, e dado que os montantes de crédito são normalmente superiores aos dos particulares, a análise do risco de crédito é ainda mais aprofundada. A instituição de crédito avalia o risco de crédito também com base numa ficha de crédito, mas concebida especialmente para empresas, que inclui informações relevantes como as demonstrações financeiras, os rácios financeiros, o historial de crédito, etc.

Passo 2: Como elaborar uma ficha de crédito

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A classificação e avaliação do risco de crédito de um cliente é normalmente resumida numa ficha de crédito, que contém as informações que permitirão elaborar a emissão de um parecer sobre uma operação de crédito. Estas informações estão normalmente incluídas nos seguintes parâmetros de avaliação:
  • Carácter do cliente: é normalmente o primeiro factor de selecção dos clientes. Revela a intenção/capacidade dele pagar ou não os compromissos assumidos. O indicador mais óbvio da probabilidade do cliente vir a pagar as suas dívidas é se pagou pontualmente no passado. A pontualidade do cliente no pagamento das suas obrigações é um factor relevante para apurar o seu carácter, podendo ser identificada através do recurso a registos internos do banco ou informações comerciais e bancárias. Pode haver casos em que o atraso no pagamento não signifique que o indivíduo ou empresa não tivessem a intenção de saldar as suas dívidas. Muitas vezes a pessoa que toma o empréstimo ou financiamento não tem simplesmente a habilidade necessária para gerir o seu negócio ou as suas finanças, endividando-se excessivamente.
  • Capacidade de gestão: é a capacidade do tomador de crédito para gerir o seu negócio, a fim de gerar lucro e pagar as suas obrigações, honrando os seus compromissos. Dito por outras palavras, capacidade significa o potencial do cliente para saldar os créditos recebidos. Na capacidade dever-se-á ter em conta não só a capacidade de pagamento mas também a competência, a competitividade e os aspectos técnicos do negócio a ser financiado, o valor, a origem, a previsão de recebimento dos valores, entre outros factores.
  • Valor do património: está relacionada com a saúde financeira do cliente no que diz respeito ao seu património líquido disponível para saldar as suas obrigações. Também é importante neste factor a origem dos recursos disponíveis do cliente. Muitas vezes, um critério importante para avaliar este factor é a dimensão do capital social da empresa, ou seja, a dimensão dos capitais que os sócios ou accionistas investiram na empresa.
  • Garantias de crédito: são uma forma de segurança de pagamento do crédito que foi solicitado. São normalmente activos complementares que o tomador do crédito apresenta como garantias. Estas têm de ser muito bem seleccionadas e têm regularmente de representar valores iguais ou superiores aos montantes emprestados, para que no caso de insolvência o activo seja utilizado para pagar a operação de crédito. Para a avaliação das garantias reais dever-se-ão ter em conta a liquidez, a depreciabilidade, a capacidade de comercialização, a localização, os custos de manutenção e as despesas de venda do bem.
  • Envolvente contextual: factores económicos e sectoriais que podem aumentar ou diminuir o risco do cliente. Normalmente, são compostos pela política governamental, a conjuntura internacional, a concorrência, factores regionais e eventos naturais.

Passo 3: Métodos para avaliar o risco de crédito

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A avaliação do risco de crédito é reflexo da multiplicidade, qualidade e origem das informações disponíveis para o analista do crédito. A análise e administração do risco baseiam-se no processamento das informações sobre o proponente de crédito.

Há vários métodos de análise e avaliação do risco de crédito. Eis os mais comuns.

Método de análise da ficha de crédito

É o método mais simples de avaliação do risco de crédito. Consiste na atribuição de valores aos parâmetros anteriores - e aos inúmeros factores que cada um destes inclui - para emitir um parecer sobre determinada operação de concessão de crédito. A cada factor emite-se um valor subjectivo - "positivo" ou "negativo". Se, no final, o número de factores com classificações positivas for superior ao dos negativos, então o parecer tenderá a ser favorável à concessão de crédito.

São vários os factores a ter em conta na análise de crédito. Os indicadores incluídos nos parâmetros "carácter do cliente" e "capacidade de gestão" (atrás referidos) são dos mais importantes pois dão-nos uma ideia muito concreta do provável comportamento do cliente. Analisando o seu passado, iremos prever o seu comportamento futuro, procurando só conceder crédito a quem demonstre maiores e melhores hipóteses para honrar os seus compromissos.

É possível representar o risco de crédito de um cliente por meio de equações como as seguintes:
  • Risco de crédito = Carácter do cliente + Capacidade de gestão + Valor do património + Garantias de crédito + Envolvente contextual
    • Carácter do cliente = Pontualidade no pagamento das dívidas + Factores restritivos (informações negativas dadas por um banco de quem é cliente, por exemplo) + Identificação (idade, estado civil, fontes de rendimento, se vive em casa própria, há quanto tempo mudou de residência, se tem emprego fixo, etc.)
    • Capacidade de gestão = Análise das demonstrações financeiras + Cálculo dos rácios de liquidez, de solvabilidade e de rendibilidade (ver glossário)
    • Valor do património = Comprovação do valor das existências em armazém (no caso de ser uma empresa) ou comprovação do valor patrimonial dos bens (se for um particular) + Valor de mercado (só se o cliente for uma empresa; é o valor a que o capital da empresa seria vendido em determinado momento)
    • Garantias de crédito = Liquidez (capacidade de o cliente pagar as suas dívidas) + Valor de mercado (quando o cliente é uma empresa) + Correcta formalização do contrato (as cláusulas do contrato podem exigir determinadas garantias de pagamento das dívidas, por exemplo, a existência de um fiador ou avalista)
    • Envolvente contextual = É uma análise puramente qualitativa das condições do mercado que a empresa não pode controlar, mas que influenciam o risco de crédito.

Método do credit scoring

É um tipo de análise utilizado para a avaliação da qualidade de crédito de clientes, sejam pessoas físicas ou jurídicas. Através da ponderação de vários factores - idade, profissão, renda, actividade profissional, património, tipo de residência, etc. -, classifica os clientes em duas categorias:
  • Bons pagadores - os que, potencialmente, têm condições para honrar as obrigações o empréstimo obtido.
  • Maus pagadores - os que, potencialmente, não reúnem as condições para cumprir as obrigações do crédito.
Este tipo de análise é muito utilizado para a avaliação de crédito de compradores de bens duráveis (por exemplo, automóveis), clientes de crédito pessoal e para atribuir limite de crédito aos clientes.

Este sistema dependerá da qualidade dos dados recolhidos e da inteligência do seu inter-relacionamento. Para a construção de um sistema de credit scoring é preciso processar uma quantidade de dados muito significativa, o que nem todas as empresas, nomeadamente as de pequena e média dimensão, conseguirão fazer. Há empresas, nomeadamente financeiras, que procedem habitualmente a análises estatísticas para avaliar o risco. Estas análises facilitam, por um lado, a compreensão e exploração do risco do cliente, por outro lado, criam estimativas precisas das probabilidades dos créditos serem pagos definindo um critério que visa a maximização das receitas e a minimização das perdas, fornecendo uma base estatística satisfatória para comprovação das decisões.

De referir ainda que esta análise poderá ser efectuada sobre uma base histórica (exame de casos passados de créditos problemáticos para dela extrair variáveis) ou sobre dados correntes (construção aleatória).

Método do risk rating

Trata-se de uma metodologia que avalia uma série de factores, atribuindo uma nota a cada um deles e, posteriormente, uma nota final ao conjunto destes factores analisados. Com base nesta nota final é atribuído um risk rating, ou seja, uma classificação para o risco, que determina o valor (risco de crédito) que a instituição financeira dará ao tomador do crédito.

Podem ser utilizadas escalas de 1 a 10, de 1 a 4, de A a E, combinações de letras e números, etc. O ideal é que o sistema seja eficiente e permita prever quais seriam os créditos com maior probabilidade de incumprimento.

A grande vantagem deste tipo de análise é de que dá acesso às decisões de crédito por pessoas que não sejam especialistas na matéria da avaliação de riscos e créditos. Para além disso, permite uma utilização por empresas que trabalham com produtos de crédito em massa (por exemplo, empresas financeiras, empresas de cartão de crédito e bancos de investimento, entre outros) e que precisam de velocidade para o processamento de grandes quantidades de propostas num intervalo mínimo de tempo.

Passo 4: Como elaborar uma proposta de crédito

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Uma vez avaliado o risco e emitido um parecer favorável em relação à concessão de crédito, deve ser elaborada uma proposta de crédito. Esta inclui:
  • A definição da forma como a operação foi realizada;
  • O nome de quem autorizou a operação;
  • Os dados pessoais do tomador do crédito e do avalista (caso exista);
  • A descrição da operação: valor, prazo, forma de pagamento, garantias, etc.;
  • As conclusões das análises realizadas, nomeadamente a descrição dos resultados das pesquisas realizadas para a emissão do parecer.
A proposta de crédito deverá ser elaborada tendo sempre em conta a política de crédito, que norteia as tomadas de decisão em relação ao crédito. Nela deve estar definida o tipo de crédito que a empresa deve conceder aos seus clientes bem como os resultados que se pretendem alcançar com estas operações.

Para ser bem sucedida, a política de crédito deverá ter em atenção os seguintes aspectos:
  • Legislação e normas legais: as empresas devem estar atentas à legislação vigente para que não incorram em riscos desnecessários.
  • Posicionamento estratégico da empresa: definição do público alvo (pessoas físicas e/ou jurídicas), da área geográfica de actuação, quais os produtos que vai operar (leasing, por exemplo) e em que mercados vai actuar.
  • Resultados que a empresa deseja atingir: quanto é que a empresa espera ter como resultado? Quais os objectivos de negócio? Pessoas com objectivos mais agressivos tendem a adoptar uma política de crédito com mais disposição para a tomada de risco. Assim, podemos concluir que o nível de exposição ao risco mais o resultado ou retorno esperado é o que irá determinar a política de crédito.
  • Poderes de decisão: definição de quem e como será feita a concessão de crédito.
Glossário
  • Ficha de crédito - É um documento que contém as informações que permitirão emitir um parecer sobre a operação de crédito. Serve de ponto de partida para uma análise de crédito mais aprofundada. Deve ser um instrumento objectivo e útil e de preenchimento rápido e simples. Pode ou não incluir uma proposta de crédito mas tem que ter em conta as necessidades específicas da empresa/instituição.
  • Tomador do crédito - A pessoa ou entidade que contrai a dívida e que assume a obrigação de a pagar, mediante as condições acordadas previamente com a entidade que concedeu o financiamento.
  • Rácios de liquidez - São indicadores financeiros que dão uma ideia da capacidade de uma empresa satisfazer os seus compromissos de curto prazo. O rácio mais utilizado é o rácio de liquidez geral, calculado pela divisão entre o activo circulante e o passivo de funcionamento.
  • Rácios de solvabilidade - São indicadores da extensão em que a empresa se financiou com capitais próprios ou alheios, que permitem avaliar o grau de insolvência a longo prazo em que a empresa incorre. O rácio mais comum é: Rácio de solvabilidade = Activo total / Passivo total.
  • Rácios de rendibilidade - Indicam o grau de eficiência com que a empresa utilizou os recursos à sua disposição. Os três principais rácios utilizados são: Rácio de rendibilidade das vendas = Resultados líquidos/Vendas; Rácio de rendibilidade dos capitais próprios = Resultado líquido/Capitais próprios; Rendibilidade do investimento = Resultado líquido/Activo
Bibliografia
  • Silva, José Pereira da; Gestão e Análise de Risco de Crédito; Editora Atlas, 1998.
  • Berni, Mauro Tadeu; Operação e Concessão de Crédito: Os Parâmetros para a Decisão de Crédito; Editora Atlas, 1997.
  • Brealey, Richard; Myers, Stewart; Princípios de Finanças Empresariais, McGraw Hill.

Autor: Portal Executivo

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